Relatório da OIT aponta que uma em cada quatro jovens negras do país não estuda ou trabalha
Uma
das mais conhecidas músicas da banda de rock brasileira Dead Fish – na
estrada há mais de 20 anos – chama-se “Mulheres Negras”. Na letra da
canção, diz-se que aqueles que precisam lutar ou resistir a qualquer
coisa deveriam se inspirar nelas. De fato, a realidade mostra que ser
mulher e ser negra no Brasil não é nada fácil. O relatório “Perfil do
Trabalho Decente no Brasil: um olhar sobre as Unidades da Federação”,
divulgado no último dia 19 de julho pela Organização Internacional do
Trabalho (OIT), trouxe à tona dados alarmantes sobre a discriminação
contra a mulher negra e sobre o acesso à educação superior e ao mundo do
trabalho.
De acordo com a pesquisa, uma em cada quatro jovens com essas
características (com idades entre 15 e 24 anos) não estuda ou não
trabalha. Outro dado da pesquisa indica que a taxa de mulheres negras
que não trabalham ou não estudam é superior às das mulheres jovens em
geral (23,1%), dos homens jovens (13,9%) e dos homens negros(18,8%).
“A constituição do nosso desenvolvimento se estruturou em cima do
racismo, afastando a população negra do acesso da educação tradicional.
Vemos a população negra como principal foco de desigualdade. Agravando
essa situação, no caso das mulheres negras, trata-se de um processo de
acumulo de exclusão, no qual elas sofrem preconceito racial somado à
discriminação de gênero”, explicou o diretor de combate ao racismo da
UNE, Cristian Ribas.
Cotas raciais e sociais para democratizar a universidade
Para a diretora de mulheres da UNE Liliane Oliveira, as ações
afirmativas são fundamentais para transformar a realidade da jovem negra
no Brasil: “Observamos que as mulheres em sua maioria têm trabalhos
precarizados e a universidade garante mobilidade social”, disse.
Inserida no debate da democratização da universidade, a UNE encabeça a
luta pela aprovação doProjeto de Lei da Câmara (PLC) 180/2008, que
prevê 50% das vagas em universidades federais para alunos que cursaram o
ensino médio em escolas públicas. Além disso, garante as cotas raciais
de forma justa e inclusiva, de acordo com a população de cada região.
“As cotas entram como uma política estratégica contra o racismo, uma
luta por valores e direitos para os negros”, explicou Cristian. A
previsão é que a lei seja votada em agosto. Enquanto isso, o movimento
estudantil e o movimento negro estão articulando uma grande mobilização
para pressionar o congresso.
Garantindo a assistência estudantil às mulheres
No debate sobre as mulheres na universidade, uma das principais
bandeiras de luta da UNE é a criação de políticas de assistência
estudantil para diminuir a evasão dos cursos. Uma delas é a criação de
creches universitárias
Uma das principais causas do afastamento das mulheres de seus estudos
é justamente a maternidade: “O afastamento das jovens da escola e do
mercado de trabalho, em um percentual bastante superior ao dos homens, é
fortemente condicionado pela magnitude da dedicação delas aos afazeres
domésticos e às responsabilidades relacionadas à maternidade, sobretudo
quando a gestação ocorre durante a adolescência”, diz o relatório da
OIT.
“A universidade não dá nenhum tipo de estrutura para que as meninas
se mantenham na universidade. Mães residentes de moradias estudantis,
por exemplo, são colocadas para fora quando engravidam. A proporção
entre mulheres que entram na universidade e aquelas que finalizam o
curso é enorme”, reforça a diretora de mulheres da UNE.
Artênius Daniel e Camila Hungria - UNE
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