José Aristodemo Pinotti (†)
Alguns
anos após seu início, na década de 80, a reposição hormonal (TRH)
tornou-se panacéia. Prevenia doenças – inclusive cardiovasculares e
algumas neoplásicas -, prolongava a juventude e mitigava os
desagradáveis sintomas da menopausa.
Essa
visão foi, durante uma década, sustentada por publicações na
literatura médica, até que, um ano atrás, o National Institute of
Health, dos EUA, abriu um braço de sua pesquisa – irrefutável pela
metodologia e pela ausência de qualquer conflito de interesses -,
mostrando que com TRH não havia diminuição do risco de doenças
cardiovasculares e, em alguns casos, notava-se até um aumento
considerável. Isso deu início a um processo de reavaliação do conceito e
do uso de hormônio após a menopausa.
Há poucas semanas, os
resultados percebidos obrigaram à abertura de um outro braço dessa
pesquisa pesquisa, agora lidando especificamente com o câncer de mama,
que é a principal causa de morte de mulheres por neoplasias (tumores) e
cuja incidência e mortalidade vem aumentando ano a ano.
Foram
estudadas 16.608 mulheres; metade delas usou a combinação de
estrógenos equinos e medroxiprogesterona por um tempo relativamente
curto (média de 5 anos), a outra metade recebeu placebo. No grupo que
utilizou hormônios verificou-se o seguinte: um maior número de casos de
câncer de mama; o diagnóstico foi mais tardio; e nos exames
mamográficos houve mais anormalidades e mais dificuldades de
interpretação. Essas diferenças foram estatisticamente significantes,
não ocorreram por acaso.
Como
ensinamento, fica a permanente dúvida descartiana, que deve estar na
mente de qualquer pesquisador, combinanda com um ditado francês: “Na
medicina, como no amor, não existe nem sempre, nem nunca”.
O
tempo de maturação das novas aquisições científicas deve ser
repeitado, a repetição das pesquisas e a busca da verdade devem ser
constantes e, mais do que isso, não se pode deixar de, pelo menos,
considerar a possibilidade de um viés financeiro quando os laboratórios
farmacêuticos lucram abundantemente com a reposição hormonal e
financiaram uma boa parte dos estudos que comprovaram o seu efeito
benéfico em diferentes campos e que estão sendo agora desvendados.
Com
relação às mulheres, elas devem sem angústia ou pressa – pois o risco
adicional é pequeno -, procurar os seus ginecologistas para reavaliar a
questão da TRH, que precisa, quando feita, ser acompanhada caso a
caso, com observação continuada. Na prática, se as usuárias, de acordo
com seus ginecologistas, decidirem pela reposição, suas mamas devem
receber atenção especial – traduzida por mamografias anuais, informando
ao radiologista sobre o uso dos hormôinios. Devem ser realizados
também ecografia e exames clínicos semestrais. Com isso, não se afasta o
risco aumentado pela reposição, mas se garante o diagnóstico precoce,
que pode ser dificultado pelos hormônios.
Quando
a detecção é precoce, a probalidade de cura beira 100% e não é preciso
retirar a mama. Na maioria das mulheres que tratamos no Hospital das
Clínicas, em estádios clínicos iniciais, logra-se, além da cura, mamas
em geral esteticamente melhores do que aquelas que tinham de ser
operadas.
O
conceito da reposição hormonal mudou. Sua indicação é mais restrita aos
sintomas da menopausa, devendo ser usada na menor dose pelo prazo mais
curto. As alternativas ao seu uso são hábitos de vida mais sadios e
tratamentos não-hormonais, como os existentes hoje para a osteoporose.
Os estudos nesse sentido prosseguem e apontarão caminhos novos. Estão
aí os fitoestrogênios sendo amplamente experimentados. Eles são
eficientes para melhorar ondas de calor e a lubrificação vaginal.
Suspeitamos – e estamos pesquisando isso – que eles possam diminuir o
risco para o câncer mamário, mas isso ainda não está comprovado.
As
pesquisas em medicina levam muito tempo; por isso, é sempre bom que
usuárias e médicos não se deixem levar por modismos terapêuticos de
forma acrítica e açodada, particularmente aqueles que agridem a
natureza e os processos fisiológicos normais.
Fonte-ABC DA SAÚDE,SITE TERRA
Lucineide Medeiros
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